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Feijão Tropeiro do Delícia

(Dando uma pausa no Canadá…). Acharam o título estranho?! rsrsrs. O “Delícia” é a forma carinhosa com que chamamos o Wagner, proprietário da Pousada Calçada São José, em Tiradentes. Já estivemos lá duas vezes, e até já fiz relato aqui no blog. Para relembrar o post, clique aqui.

Pousada Calçada São José em Tiradentes – MG

O casal Wagner e Du, são excelentes anfitriões e a pousada é daquelas que você se sente em casa. E que casa! Trata-se de uma imensa e bela propriedade, aos pés da Serra São José, muito espaço verde, pássaros, decoração rústica, café da manhã delicioso. Pelo menos uma vez por ano agora tô indo pra lá descansar… e comer, rsrsrs.

Naquela ocasião em que escrevi o post, não publiquei o fantástico Feijão Tropeiro do Delícia. Outros assuntos terminaram por atrapalhar os meus planos de passar a receita pra vocês. Mas desta vez, eu mesma quero “eternizá-la” aqui no blog. Porque vale a pena, porque é inesquecível e fantástica. Porque o Delícia prepara com todo carinho e dedicação que se pode esperar de um verdadeiro Chef!

Toda a “mise en place” é feita desde o dia anterior, de forma a não atropelar os trabalhos na hora de montar o prato. Todos os ingredientes são cuidadosamente encomendados e comprados com antecedência. A costela de porco (servida à parte) foi assada por 6 horas no forno, para ficar derretendo, literalmente, na boca…

Antes de descrever, já vou logo dizendo que não tenho as quantidades exatas da receita, mas assisti, com olhos atentíssimos, e gravei as partes mais importantes, para não esquecer nenhum detalhe. Então não posso afirmar que as quantidades estão exatamente iguais as que ele usou, mas estão bem próximas. O almoço que ele preparou domingo passado, foi para 15 pessoas.

Ingredientes:

  • 1,2 kg de feijão vermelho cozido (ele falou para calcular uns 80g por pessoa)
  • 8 cebolas picadas
  • 1 cabeça inteira de alho picado
  • 26 ovos
  • páprica doce e picante a gosto
  • 0,5 kg de lombinho de porco “confitado” (cozido bem lentamente)
  • linguiça de porco cortada em rodelas e fritas (uns 300 ou 400 g)
  • alho picado e tostado (para finalização)
  • couve mineira cortada bem fininha (umas 6 folhas grandes)
  • cebolinha picada (um maço)
  • torresmo (umas 2 xícaras)
  • 300 g (aproximadamente) de farofa de milho, torrada e temperada com alho e cebola (ele ensinou que de milho é melhor que de mandioca, nesse caso, para o prato não ficar ainda mais pesado)
  • azeite, sal e pimenta do reino a gosto

Vamos lá para o modo de preparar!!! Tem muito segredinho aqui…

Com tudo já preparado, picado, cozido, frito, etc, devemos “montar” o prato numa panela graaaande, tipo paellera (pode ser uma wok tb). Daí primeiro entra o alho no azeite, para dourar um pouco. Só depois entra a cebola.

Então vem a parte mais trabalhosa e delicada. Fogo tem que estar o tempo inteiro bem baixinho ok?!! Abrir os ovos, um por um, delicadamente (tentando não quebrar a gema), dentro de um potinho (para desprezar, caso o ovo esteja estragado), e ir distribuindo-os na panela inteira, com cuidado. Depois pode tampar um pouco para que eles cozinhem lentamente.

Depois que os ovos estão durinhos, e para dar um gostinho especial, ele acrescenta um molho consistente, retirado do assado do lombinho ou da costela, feita por fora, e que acompanha o tropeiro depois. Tempera com sal, pimenta do reino, páprica doce e picante. Isto feito, ele usa duas colheres de pau e corta os ovos em pedaços. Aliás, dica do Delícia: “não é pra colocar os ovos na panela e mexer como se fossem ovos mexidos não!! senão dá gosto de ovo no feijão!!”. Anotado?!!

Só depois de cortar os ovos fritos, você deve acrescentar o lombinho de porco, o feijão e a linguiça.

Então é hora de acrescentar a couve mineira. Depois que murchar, acrescentar a farofa de milho.

Para finalizar o prato, ele acrescenta a cebolinha fresca e tampa a panela. Na hora de ir pra mesa, não esquecer de acrescentar o alho frito e crocante, e os torresmos (este último pode ser deixado à parte, apenas para quem gosta, ou pode comer, rsrs).

De acompanhamento para o Tropeiro, ele preparou uma costela de porco assada e “pururucada” divinamente. Para quem não conhece o termo, pururucar é tostar a pele do porco de forma que fique crocante. O Delícia tem uma “arma infalível” e bem original. Um artefato movido à gás e que, segundo ele, atinge 700 graus!

Os outros acompanhamentos foram: o arroz de jiló (uma especialidade da casa), farofa de banana e molho de cebola roxa (tipo um vinagrete). Um espetáculo. Não há melhor Tropeiro na região, pelos motivos que falei lá em cima: este é feito com carinho, lentamente, num ritmo que combina com o lugar. É o que chamamos de “slow food”. Sua cozinha propriamente dita fica inclusive aberta, aprende quem quer. Eu fiquei ali do ladinho, gravando tudo, claro. Não perdi nenhum detalhe, eu acho…

Depois foi só abrir uma boa garrafa de vinho tinto e: estômago, pra quê te quero??!!!! 😛

Então, cariocas… Este é um programa maravilhoso para quem mora no Rio de Janeiro, pois a cidade de Tiradentes (Patrimônio Histórico Nacional) fica a apenas 370 km do Rio. Se você for passar um final de semana por lá, não deixe de visitar a Igreja Matriz, as lindas ruas de pedra do centro histórico com suas casas coloniais (observe as janelas coloridas), e vá a alguns de seus restaurantes maravilhosos (indico o Viradas do Largo). Ah! Se der tempo, aproveite para dar um pulinho em Bichinho, um pouquinho afastado do centro, mas com lojas de artesanatos e móveis bem diferenciados para a sua casa!

Tiradentes – MG e abaixo do lado direito, a “Casa Torta” em Bichinho

Em breve, mais posts do Canadá!!

Uma aventura em Tiradentes-MG

Entre os dias 19 e 22/11, feriadão de Zumbi no Rio de Janeiro, eu e Claudio fomos para Tiradentes em Minas Gerais para descansar um pouco, sair da rotina, e de quebra encontrar um grupo de amigos (éramos 12 ao todo) para beber, comer e conversar. Dudu, meu amigo que é chef de cozinha, que eu já citei aqui trocentas vezes, estava à frente da organização do programa. Segundo ele, além da Pousada ser excelente (Pousada Calçada São José – Pouso Campestre), o Wagner e a Du, casal proprietário da Pousada, eram excelentes anfitriões. E de quebra, o Wagner era Chef de cozinha de primeiríssima. Iria nos preparar um bacalhau na sexta à noite e um tropeiro no sábado. Era tudo que eu precisava para o meu final de semana!!

A Pousada realmente é uma delícia. Distante do centro da cidade, com uma área verde imensa e muito bem cuidada, tem clima de campo, muito charme na decoração, quartos bem equipados, café da manhã maravilhoso, enfim, um local para você esquecer o resto do mundo e descansar. A sensação que temos é a de estarmos em uma fazenda familiar.

Pousada Calçada São José, Pouso Campestre, em Tiradentes-MG

Pousada Calçada São José, Pouso Campestre, em Tiradentes-MG

Viajamos pra Tiradentes na quinta-feira de manhã, com chegada na hora do almoço (veja meu post sobre o restaurante Kitanda Brasil). À noite tivemos uma pequena ideia do talento do nosso anfitrião Wagner, com algumas entradinhas que ele nos serviu (kibe cru de cordeiro, conserva de jiló, tomates frescos com manjericão e alho) e da sua esposa Du, com sua deliciosa e reconfortante sopinha de legumes.

Nosso jantarzinho na noite de quinta feira na Pousada Calçada São José

Nosso jantarzinho na noite de quinta feira na Pousada Calçada São José

Na manhã da sexta-feira, ficamos encantados com o café da manhã comandado pela Du. Delicioso! Tudo feito com carinho, cada detalhe… O iogurte feito por ela, os bolinhos especiais (banana com granola), os pãezinhos recheados, os sucos feitos na hora, cada dia um sabor diferente. E os ovos fritos à moda da casa, feitos pelo Wagner, com queijo e alho frito… um luxo!

Eu e a Du no salão de café da manhã da Pousada Calçada São José

Eu e a Du no salão de café da manhã da Pousada Calçada São José

Neste ponto vou dar uma pausa nas comilanças para contar sobre a aventura em que nos metemos…

Resolvemos fazer uma trilha ecológica para melhor conhecermos a região, pois a pousada tem uma localização excelente para quem gosta de trekking, afastada do centro da cidade, localizada bem no pezinho da serra (Serra de São José). Depois de algumas orientações da Du, saímos por uma das trilhas já demarcadas pelo Wagner, tranquila, sem erro, era só seguir o caminho até lá em cima. Beleza. Saímos sem pretensão de demorar, nem colocamos protetor solar (estava nublado), nem mesmo levamos uma garrafinha de água…

Seguimos felizes pelo caminho descrito pela Du, passamos pela Calçada dos Escravos (resquícios dos caminhos abertos pelos escravos no século 18 para o transporte do ouro), pela porteira (fim da propriedade), pelo mirante, pelo “labirinto de pedras”. A partir daí não tínhamos mais referências e deveríamos voltar, na verdade. Mas somos muito aventureiros (metidos a “cavalo do cão”, como se diz na minha terra) e resolvemos seguir a trilha, pra ver se chegávamos  na parte mais alta da serra (que chega a 1260m de altitude), num ponto mais próximo da cidade de Tiradentes. Queríamos ter uma visão dela lá de cima…

Calçada dos Escravos, mirante e a cidade de Tiradentes vista do alto da serra

Aí começaram os problemas, hehehe. O sol surgiu, inclemente. No 3º km uma das minhas botas perdeu a sola… No 4º km a foi a vez da outra bota. Mas chegamos na parte mais alta da serra, vimos a cidade de Tiradentes aos nossos pés, tiramos fotos, e em vez de voltarmos, não… achamos que tinha alguma descida mais próxima, que seria melhor continuarmos… e nesse ínterim não aparecia uma alma viva pra nos dar uma informação!! Nem uma plaquinha perdida, hahaha.

Vimos a cidade de Tiradentes passar ao largo, terminou ficando pra trás e nada de aparecer uma descida. Mas estávamos tranquilos, afinal, sabíamos exatamente onde estávamos, só não sabíamos como descer!! Feito gatos em cima do telhado, haha!! Não tínhamos sinal de celular. Nem água. Nem protetor solar…. uuuiiiii.

Enfim, chegou um ponto que minhas botas já estavam atrapalhando mais do que ajudando. Vislumbramos um lugar pra descer da serra, que não era trilha demarcada, mas que dava pra encarar. Desci bem devagar, pra tentar manter as palmilhas embaixo do meu pé. Nem pensamos em retirar o cadarço pra amarrá-las. Marinheiros de primeira viagem mesmo!! Chegando lá embaixo, joguei fora as minhas imprestáveis botas, as palmilhas já eram. Só pedi a Claudio que me cedesse as meias dele, assim fiquei com duas meias em cada pé. A essa altura já estávamos “no chão”, pelo menos. Mal sabíamos nós que ainda tínhamos uns 3km pela frente!!

Minhas botas, que ficaram imprestáveis... rsrsrs.

Minhas botas, que ficaram imprestáveis… rsrsrs.

Cachoeira em algum ponto da trilha

Cachoeira em algum ponto da trilha

De repente um barulho de água… uma cachoeira! Que maravilha. Me refresquei. Tomei também um pouco d’água. Chegamos em uma barragem e aí não sabíamos mais pra que lado ir, não víamos mais a trilha. Caiu uma chuva torrencial nesse momento.

Tínhamos que proteger as câmeras!! Sorte que Claudio havia levado um saco plástico. Daí passamos por cima da barragem e seguimos uma trilha do outro lado. Pra resumir, finalmente chegamos numa mineradora, uns caras nos disseram que estávamos em “Santa Cruz de Minas”. Outra cidade! Andamos mais um pouco e ao vermos um carro se aproximar, pedimos carona. Ele nos deixou num ponto de ônibus para dali então irmos pra Tiradentes. Eu subi no ônibus encharcada e de meias, hahahaha. Andamos ao todo pouco mais de 10km, em 4 horas e meia, um bom gasto calórico não?!

Chegamos na rodoviária de Tiradentes, pegamos um táxi imediatamente que nos levou finalmente para a Pousada. Todos estavam querendo saber notícias nossas, preocupados. O melhor de tudo era que eu sabia que um banquete nos aguardava!!! Mas antes dele, um banho beeeeeeem quente!!!!

E mais tarde começamos a repor todas as energias perdidas. “Vol-au-vents” de queijo brie com damasco. Bruschettas de abobrinhas com queijo gorgonzola (divinas!!), “pesto siciliano” (feito com tomate seco, alho, azeite e nozes), pastinha de azeitona preta e cogumelos refogados. Tudo isso regado com alguns excelentes espumantes que nós levamos (boa parte do grupo era da ABS).

Vol-au-vents de brie com damasco, bruschettas de abobrinha e gorgonzola e pastinhas...

Vol-au-vents de brie com damasco, bruschettas de abobrinha e gorgonzola e pastinhas…

Depois chegou o rei da noite, o bacalhau! O Wagner o preparou de forno, com brócolis, batata, chuchu, pimentão vermelho, azeitonas pretas, alho, cebola e muito, muito, muito azeite! O lombo era alto e super macio. Uau!! Vinho tinto para acompanhar. De sobremesa, banana caramelada feita pela Du, sorvete de creme e doce de leite caseiro. E um “sauternes” (vinho branco de sobremesa) francês pra fechar com chave de ouro!!

Bacalhau preparado pelo Wagner, e doce de banana da Du

Bacalhau preparado pelo Wagner, e doce de banana da Du

No próximo post, vou falar um pouquinho da cidade de Tiradentes, que visitei apenas no dia seguinte, e o fantástico Tropeiro que o Wagner nos preparou. Eu fiquei tão empolgada com a aula que recebi que repeti a receita no final de semana seguinte e darei as dicas todas pra vocês. Aguardem!!