Esta sigla vem do latim “Deo Optimo Maximo”, que segundo as pesquisas que fiz na internet significa “Deus é ótimo e máximo”. Essa expressão foi adotada pelos Monges Beneditinos, que se destacaram pela ótima cozinha, servindo aos viajantes e hóspedes refeições preparadas com os ingredientes disponíveis. Alex Atala pegou essa deixa e substituiu o D por “Domus”, que significa “casa”. É aqui em sua casa que ele oferece sua ótima (e máxima) gastronomia.
Depois de um sábado inteiro em São Paulo, fazendo comprinhas gastronômicas, nos dirigimos ao Restaurante D.O.M.. Meu coração estava batendo forte quando entrei lá. Eu podia ouvi-lo, tum, tum, tum, quando passamos pela porta imensa e adentramos aquele ambiente aconchegante, à meia-luz, pé direito bem alto, um lustre lindo no centro do salão, uma música bem baixinha… Estava praticamente vazio, mas eu sabia que depois iria lotar. Eu e Cláudio não gostamos de jantar muito tarde.
Do início ao fim, o serviço foi impecável. De couvert, nos trouxeram uns pãezinhos feitos na casa (de nozes, queijo parmesão e outras variedades) com uma deliciosa pasta de alho. Pedi um vinho da África do Sul, uva Pinot Noir bem levinho, para combinar com tudo. A sugestão do Maitre era de pedir o menu degustação, que poderia ser de 4 pratos ou 8. Pedimos o de 4, por medo de não conseguirmos comer tanto (depois eu soube que eles diminuem as porções e que daria no mesmo, comer 4 ou 8 pratos, mas aí já era… fica pra próxima!).
Primeiramente, nos serviram camarões levemente branqueados, com picles de chuchu e um caldo bem leve e transparente, feito com tamarindo e cajuína (bebida não-alcóolica típica do Piauí, preparada a partir do suco do caju). Bem delicado. Depois veio uma ostra empanada, com “pérolas” de tapioca e salmão por cima. Estava muito sofisticada e com sabor sutil. As bolinhas estouravam na boca e eram deliciosas. Gostei bastante.

Camarões com tamarindo, cajuína e alho-poró (à esq) e ostra empanada com “caviar” de salmão e tapioca
Em seguida, veio uma coisa deliciosa. Um “mini arroz” (parecido com arbóreo, só que pequenininho) com garoupa e crocante de escamas (show né?!). Para enfeitar, brotos de anis. E depois, um “fettuccine” feito com o palmito pupunha (como fazem também no Miam Miam, onde trabalhei) servido à carbonara, ou seja, com um creme de ovos e bacon frito, este último cortado bem pequenininho e crocante. Muito gostoso.
A seguir, que foi o ponto alto do jantar, um “confit de cannard” ao molho de vinho madeira, com purê de cará (espécie de inhame). O confit estava maravilhoso, pele crocante por fora, carne muito macia, apresentada com um corte diferente (inicialmente até achei que fosse um pedaço de leitão assado, rsrsrs). Excelente.
Como prato de transição entre o jantar e a sobremesa, foi servido o famoso “aligot” (preparação clássica francesa, típica da região dos Alpes), que nada mais é do que um purê de batatas misturado com queijos. Lá no D.O.M, Atala prepara com queijo minas padrão e gruyére (mas tem um monte de dicas para que ele fique com a textura perfeita). Resulta num purê super elástico, que o garçom traz da cozinha apenas equilibrando-o entre duas colheres, girando sempre, até ser colocado delicadamente no prato do comensal. Um verdadeiro e gracioso malabarismo.
A sobremesa estava linda, perfeita. Uma obra de arte, eu diria. O contraste das cores, dos sabores, das texturas. Tá parecendo meio clichê o que estou falando, mas acho que foi uma das experiências mais interessantes que já tive na vida, em termos de sobremesa. Muito exótica, saborosa e bela ao mesmo tempo. Era uma mistura improvável de abóbora, carvão vegetal, sorvete de tapioca e “rocha” de açúcar.
Depois eu disse ao Alex, pessoalmente, o quanto eu havia gostado de sua sobremesa. Siiiiiimmmmmmmmm!!!!! Eu falei com ele!!!!!!!!!! Tive muita sorte, pois raramente o Alex Atala está no restaurante, tendo em vista que ele se divide entre o D.O.M, o Dalva e Dito (seu outro restaurantes) e milhões de palestras que dá e viagens que faz. Enfim, ele estava lá… Fui conhecer a cozinha primeiro, tirei fotos com o chef Giovani, que é baiano e é seu braço direito, um cara muito tranquilo e simpático. A cozinha estava super organizada. Ao final do jantar, fui falar com o Alex. Mostrei uma foto que tirei com ele aqui no Rio de Janeiro no ano passado, durante uma palestra que ele fez na Casa do Saber. Elogiei sua comida, falei que havia terminado o curso de gastronomia e que estava comemorando minha formatura lá, no restaurante dele. Tirei uma foto com ele e voltei pra mesa. Coração parado. Nem o “tum tum” eu tava ouvindo mais, rsrsrs.
Mas sobrevivi pra contar minha experiência. E não me perguntem quanto custou o jantar. Meu marido me convidou, pagou tudo, eu nem quis saber o valor da conta….
Agora vem a parte ruim da viagem. Não gosto nem de lembrar, mas no domingo almoçamos no aeroporto de Congonhas, após a grande frustração que tive por não ter conseguido uma mesa no Mocotó, restaurante de comida nordestina que está fazendo o maior sucesso em São Paulo. E está mesmo, porque eu cheguei lá às 12:40h e tinha uma fila imensa na porta (todas as mesas já estavam ocupadas). Três senhoras que estavam na frente da fila disseram que haviam chegado às 11:30h!!!!!!! E estavam ali esperando pacientemente porque, disseram elas, valia muuuito a pena. Infelizmente eu não podia esperar, pois nosso voo iria sair dali a 2 horas. Não tivemos alternativa e fomos pro aeroporto, depois de atravessar (de táxi) quase a cidade inteira de São Paulo. Meu coração agora estava bem apertadinho… Mas eu volto, Mocotó, qualquer dia eu volto. E chego às 11h!